Estrela Faria

POR SUSANA JACOBETTY

Estrela da Liberdade Alves Faria foi uma artista plástica, enquadrada no Segundo Modernismo que deixou uma obra em várias vertentes artísticas, nomeadamente na pintura mural, cerâmica, desenho, ilustração, decoração, joalharia, poesia, cenografia, moda e publicidade. A qualidade e pertinência do seu trabalho é inegável e pretende esta revista, prestar-lhe a mais sincera homenagem. Celebrando-a através de algumas imagens da sua obra, de uma breve história e vários depoimentos. Tão formidável artista deverá ser consagrada de uma forma que reflita gratidão e reconhecimento pela mestria do seu trabalho.

Filha de Ana de Jesus e de Miguel Joaquim Alves Faria, terceira filha de sete irmãs e um irmão, a artista nasceu em Évora, na Quinta dos Apóstolos, a 9 de Outubro de 1910. O nome escolhido pelo pai, republicano convicto, deveu-se à recente instauração da República em Portugal. Mas este nome tão invulgar, vem a ser também pronúncio do que viria a ser esta sua filha, uma mulher que brilhou, encantou

Auto-retrato, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares

Com a família já a morar na Rua Diogo Cão, no centro de Évora, começa os seus estudos na Escola Industrial e Comercial Gabriel Pereira, onde sobressai artisticamente e, o seu talento é reconhecido por vários professores. A Junta Geral e Distrital de Évora concede-lhe uma bolsa para ir estudar pintura em Lisboa, na Escola de Belas-Artes, curso que frequentou entre 1931-1935 e que terminou com 19 valores e recebe também a bolsa Ventura Terra.

Carta de Cuso de Estrela Faria, 1928. Arquivo pessoal personal de Sílvia Soares

Painel que fez enquanto aluna na Escola Industrial Gabriel Pereira, onde ainda se encontra.

Mais tarde, através do estatuto de bolseira pelo Instituto para a Alta Cultura, é-lhe atribuída uma bolsa que lhe permite estudar em Paris em 1938, percurso que é interrompido devido à Segunda Guerra Mundial, mas retomado em 1948. Em 1946 é vencedora do prémio Columbano na Exposição de Arte Moderna do SPN/ SNI, em Lisboa. Também viaja muito, para Inglaterra, Holanda, Itália, França e, depois para o Brasil a convite do Banco Nacional Ultramarino, onde fica a trabalhar durante dez anos. Quando regressa a Portugal para além de continuar a produzir muitas obras, também é professora na Escola Artística António Arroio e na Escola de Belas Artes.

Deixa um legado indelével.

Painel criado por Estrela Faria, Cinema Alvalade, 1959. Fotografia Mário Novais. Fundação Calouste Gulbenkian

É necessário salvaguardar a integridade do fabuloso painel do antigo cinema de Alvalade em Lisboa, recentemente restaurado, que se encontra atualmente inserido numa zona de bar do cinema. A sua colocação num museu de forma a garantir a sua conservação e exposição ao público, será o ideal.

Pormenor do Painel criado por Estrela Faria, Cinema Alvalade, 1959.

“O meu estilo de trabalho é mais pintura mural,frescos, ou outro género mais moderno. Prefiro pintura figurativa, porque sempre me habituei a pintar assim,embora lhe dê o meu cunho pessoal”

Estrela Faria (1910-1976), entrevista para a for RTP, 8 de Fevereiro de of 1968

Estrela Faria (1910-1976) com uma camisola Poveira, Paris, 1939. Arquivo pessoal de Sílvia Soares

Pintura de Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares

A artista tinha uma grande coleção de pinturas das viagens que fez a Veneza, Holanda, Londres, Paris, Itália e Inglaterra. Os quadros eram todos pintados à vista, “colocava o cavalete e pintava-os”. Sobrinha Sílvia Soares

Londres, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares

Veneza, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares

O painel em azulejo com textos bíblicos do tribunal de Évora foi uma encomenda do secretário do governador civil, o Dr. António Cartaxo.

Painel azulejar da Sala de Audiências do Tribunal de Évora. Estrela Faria, 1963

Nossa Senhora da Luz, Estrela Faria 1950 -1960 Faiança polícroma e vidro A 99.5 x L 53 x E 3.5 Doação Amigos do Museu Nacional do Azulejo

“Estrela Faria foi uma mulher fascinante e a sua obra cerâmica é bastante interessante do ponto de vista da execução. A Nossa Senhora da Luz é uma das grandes peças da Estrela Faria em termos de painéis de azulejo e é absolutamente extraordinária. Do ponto de vista da execução implicou várias cozeduras, temos a percepção do ouro líquido que ela aplicou na última cozedura e ainda faz grafitados. É uma obra com muitas texturas, em que são aplicados diferentes tipos de materiais para criar um borbulhar nos vários tecidos, foi aplicado um elemento para criar esta noção de lã no manto que cobre a Virgem. Esta peça demonstra uma capacidade experimentalista da artista, em que ela vai ousando, indo cada vez mais longe para tentar alcançar efeitos com as várias texturas, mas o elemento mais extraordinário é a estrela colocada no ventre da figura, porque é uma peça feita por alvéolos, onde introduz, posteriormente à cozedura, pedaços de vidro. O painel todo brilha, mas a estrela irá refletir a luz de uma forma completamente diferente.”

Alexandre Pais, Diretor director do of Museu Nacional do Azulejo. Conferência Conference Estrela Faria – DRCAlentejo / Évora, 2023

Painel Cerâmico alusivo ao ensino. faiança poliCroma, 300×600 Cm. estrela faria, 1962, Escola Seundária Rainha Santa Isabel, Estremoz.

“A minha tia adorava a sua gata Kiki. Trouxe-a do Brasil, adotou-a quando a encontrou atropelada, a gata ainda viveu imensos anos com ela em Portugal. Adorava pintar crianças, flores e gatos.”

Sobrinha Sílvia Soares, Évora, 2023

“Nessa altura realmente não era comum as meninas seguirem a arte, mas a tia foi muito destacada na escola, onde os professores na época reconheceram uma voz artística séria”

Sobrinho neto José Neves, Évora, 2023

Kiki, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Sobrinha Sílvia Soares, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares. Kiki, Estrela Faria (1910-1976). Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Sobrinha Maria de Lourdes, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de José Neves

Laura, irmã. Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares. Kiki, Estrela Faria (1910-1976), Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Das sete irmãs, que eram todas muito bonitas, só Custódia, Adelaide e Estrela passaram os 30 anos de idade, Laura, Florbela, Preciosa e a Quinhas (Maria Rita) morreram cedo e três de tuberculose no mesmo ano.

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares

Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado. Fotografia João Bacelar. Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF)

Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado. Fotografia João Bettencourt Bacelar. Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF)

Retrato de Berta Mendes, Estrela Faria, 1944. Aguarela sobre papel, 27,5×42. No Inventário E.3.2626. Fotografia José Pessoa, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF)

Maria Emília Araújo (Mariaújo), Estrela Faria, Lisboa, 1959. Fotografia João Bettencourt Bacelar

“A Estrela Faria foi minha professora na Escola Artística António Arroio, entre 1957 e 1959 e nesses anos trabalhei como sua assistente em vários trabalhos.

A Estrela era uma pessoa muito engraçada, era danada. Tinha uma força enorme, era voluntariosa. Apreciava o meu pensamento em arriscar, criar de maneira diferente. Quando me via a desenhar pedia para lhos dar e deve ter gostado, porque foi assim que me convidou a trabalhar como sua assistente a seguir às aulas.

Faziam-se muitas reuniões com o escultor António Duarte (1912-1998), que na altura já era uma referência. A Estrela pintou-me muitas vezes e ofereceu-me esta pintura e disse-me: “Olha, guarda isto que um dia vai valer alguma coisa”.

Dela o que marcou enquanto artista foi a enorme vontade que tinha de fazer as coisas. Ainda hoje, sinto essa coragem em ocasiões mais difíceis, ela vincou-me e disse-me: ‘temos aquilo que conquistamos e é preciso conquistar as coisas, tu vais conquistar muita coisa porque tens força, tens energia para isso, não te preocupes que vais ser sempre alguém’. Tinha 17 anos. Estas palavras andaram comigo sempre, ela era uma mulher muito determinada. Já tinha feito o painel de Alvalade(1953), dizia-me, vai entrar um trabalho, estás livre e eu respondia: “Para a minha Estrelinha estou sempre livre”.

Lembro-me da Estrela Faria sempre como uma mulher de coragem, muito forte, e que me incutiu esse espírito de força. Achei sempre que era uma boa mulher, com muita genica, gostava de ajudar aqueles em quem via talento. Era uma mulher muito bonita e muito cobiçada.

Em termos de técnica a Estrela Faria influenciou o meu trabalho através das cores, os turquezas, os verdes, os laranjas, cores muito fortes que ela usava. Senti-me muito privilegiada por ela ter sido minha madrinha/ mentora.” A maneira como ela me falava e me espicaçar para eu fazer as coisas, com tempo, com espaço, a querer fazer melhor que os outros, isso foi uma coisa incutida por ela. Às vezes pensava: Estrelinha, se me visses agora, acho que teria orgulho em mim.

Maria Emília Araújo, Lisboa, 2023

Pintural mural, Alentejo séc. 20. Estrela Faria, Museu museum de Arte Popular Fotógrafo José Paulo Ruas, 66835 DIG.

Estrela Faria. Nº de Inventário: DP1327 (desenho). Fotógrafo: Paulo Costa. CAM-Centro de Arte Moderna Gulbenkian, Lisboa

Estrela Faria (1910-1976), Posto de turismo de Évora. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Estrela Faria (1910-1976), Posto de turismo de Évora, Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Estrela Faria (1910-1976). Nº de Inventário: DP83P1250. Serra da Estrela, óleo sobre madeira, 51×91 cm, Fundação Calouste Gulbenkian.

Exposição Internacional de Paris, 1937. Painel Minho. Estrela Feria (1910-1976),. Fonte Biblioteca Nacional Digital

Exposição Internacional de Paris, 1937. Pavilhão de Portugal. Painel de Trás-os-Montes, por Júlio Santos; Painel da Beira, por Abel Manta; Painel do Minho, por Estrela Faria; Painel da Beira Litoral, por Jorge Barradas. Fotógrafo: Estúdio Mário Novais (1933-1983). Data de produção da fotografia original: 1937. Responsáveis pela participação portuguesa: Comissário: António Ferro Autor do Pavilhão de Portugal: Arquitecto Keil do Amaral

Estrela Faria foi convidada em 1959 para desenvolver várias peças em cerâmica, fazer a decoração e inclusivamente o mobiliário, como candeeiros e cadeiras para a já desaparecida boite do Hotel Ritz.

Boite do Hotel Ritz, Estrela Faria, Lisboa, 1959. Arquivo pessoal de Miguel Louro. Kiki, Estrela Faria (1910-1976), Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Bailarinos, Estrela Faria, Lisboa, 1959. Coleção Four Seasons Hotel Ritz Lisbon. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

“Para mim, a peça mais extraordinária de cerâmica da Estrela Faria encontra-se no Ritz, Os Bailarinos (1958), é uma peça vertiginosa na forma da figura feminina, com uma enorme desenvoltura e de uma modernidade incrível e realizada na Escola António Arroio, onde não há fornos industriais. É uma peça modular, com módulos que se justapõem, fixados com uma estrutura metálica por trás. Um aspeto muito importante são as texturas que a artista dá a cada um dos tecidos e a utilização das diferentes cores que criam profundidade. É um trabalho do ponto de vista cerâmico extraordinário.

As expressões deste casal a dançar são fantásticas, é um casal mas percebe-se que não é um casal convencional, a figura masculina está quase em êxtase, percebe-se uma dimensão de transcendência no envolvimento com a música e com a dança, e a figura feminina, para mim, é a figura mais sensual que temos na cerâmica nesse período; a dança é quase um ato sexual, há uma expressão de abandono extraordinária nesta figura. Esta obra permite-nos sentir toda a sensualidade que a dança provoca nas figuras”.

Alexandre Pais, Diretor do Museu Nacional do Azulejo, Conferência Estrela Faria – DRCAlentejo / Évora, 2023

Estrela Faria (1910 – 1976). Jarra de clara inspiração modernista com linhas, círculos e cores vivas. Coleção Four Seasons Hotel Ritz Lisbon

Lua e Estrelas, Estrela Faria, Lisboa, 1959. Coleção Four Seasons Hotel Ritz Lisbon. Kiki, Estrela Faria (1910-1976), Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Uma lua e quatro estrelas em que nenhuma delas é igual, São peças de grande dimensão que faziam parte da decoração da boite.

Lua, Estrela Faria, Lisboa, 1959. Arquivo pessoal de Miguel Louro. Kiki, Estrela Faria (1910-1976), Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Lua, Estrela Faria, Lisboa, 1959. Coleção Four Seasons Hotel Ritz Lisbon. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Sete Colinas, Estrela Faria, Lisboa, 1959. Coleção Four Seasons Hotel Ritz Lisbon. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Nesta composição de cerâmica com as cores de Lisboa, estão representadas as sete colinas da cidade de Lisboa. São elas o Castelo de S. Jorge, colina de S. Vicente, colina de São Roque em Alfama, Santo André na Graça, colina de Santa Catarina, colina das Chagas e, por fim, a colina de Sant’Ana. No primeiro plano vemos a Praça do Comércio e o Arco da Rua Augusta.

Para Alexandre Pais, director do Museu Nacional do Azulejo, esta é uma peça particularmente interessante e insere-se dentro de uma temática desenvolvida por vários artistas na altura. A peça da Estrela é uma Lisboa de vertigem, de quase asfixia, em que a cidade parece colapsar. Esta obra é extraordinária, é uma peça modelada composta por vários elementos.

Maria Emília Araújo trabalhou como assistente na produção desta obra. Estrela Faria construiu os relevos para depois fazer as casas em quatro placas. Foi uma obra muito trabalhosa, executada sobre mármores que posteriormente foram iluminados por trás.

Painel de Azulejos – Nossa Senhora com o Menino. Estrela Faria (1910-1976). Faiança policroma e vidro. 118 x 73 x 3,5 cm. Número de Inventário:80356 DIG. Museu Nacional do Azulejo. Fotografia Luísa Oliveira

“A Estrela Faria é uma pessoa entusiasmante, desassombrada, corajosa. Conseguiu rasgar uma série de convenções numa altura em que não era nada evidente que uma mulher sozinha o fizesse. Criou o seu percurso, foi para onde quis, com muitas dificuldades, com certeza, mas venceu. Era de uma coragem muito inspiradora para os dias de hoje, para os artistas e para as mulheres. Quando pensamos nas dificuldades que ainda hoje as mulheres têm, não só na área das artes mas em todas as áreas, pessoas como ela são um exemplo. Ela é uma figura inspiradora e é nossa obrigação fazer tudo para que ela seja conhecida, que o exemplo dela passe, que seja transversal a todos, porque ela merece isso. Há uma dívida da sociedade portuguesa em relação à Estrela Faria. Uma artista que trabalhou muito e não teve uma vida fácil.”

Ana Paula Amendoeira, Diretora da Direção Regional de Cultura do Alentejo Lisboa, 2023

Espartilhos, Bailado o Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio, espetáculo Teatro Nacional de S. Carlos. Estrela Faria, 1961, Museu Nacional do Teatro e da Dança

Estrela Faria criou figurinos para dois espetáculos produzidos pela Companhia de Bailado Verde Gaio, o Fado que foi apresentado no Teatro S. Carlos e Tema Alentejano. A Verde Gaio foi a primeira companhia estatal de dança em Portugal, cujos temas eram inspirados no folclore nacional.

Bailado o Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio, espetáculo Teatro Nacional de S. Carlos. Estrela Faria, 1961, Museu Nacional do Teatro e da Dança

Bailado Tema Alentejano, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria, 1961, Museu Nacional do Teatro e da Dança

Bailado Tema Alentejano, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional do Teatro e da Dança

Ceifeiras, Bailado Tema Alentejano, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional do Teatro e da Dança

Bailado O Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional do Teatro e da Dança

Severa saias, Bailado o Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria, 1961, Museu Nacional do Teatro e da Dança

Bailado  O Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional do Teatro e da Dança

Bailado o Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria, 1961, Museu Nacional do Teatro e da Dança

Estudos dos figurinos desenvolvidos para o bailado o Fado, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria, 1961, Museu Nacional do Teatro e da Dança

Bailado Tema Alentejano, Companhia de Bailado Verde Gaio. Estrela Faria (1910-1976). Museu Nacional do Teatro e da Dança

“Uma independência de personalidade na sua pintura, uma delicadeza de concepções e realizações muito particulares, um gosto combinado de graças e de ousadias poéticas, com enternecimento pela fragilidade das crianças, pela luz das horas românticas na natureza e pela inocência dos temas líricos da Vida que sente, transfigura e espiritualiza, é uma das mais dotadas desse núcleo feminino de artistas.”

Diogo de Macedo (1889-1959) Escultor, museólogo e escritor. 1945

Ilustração para revista de moda, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de  Sílvia Soares. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Ilustração para revista de moda, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Ilustração para revista de moda, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

ilustração para baralho de cartas, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Miguel Louro. Fotografia joão Bettencourt Bacelar

Estrela Faria (1910-1976). Nº de Inventário: DP70P756. Barraca de tiro, óleo sobre tela, 50×40 cm, Fundação Calouste Gulbenkian.

“Estrela Faria foi uma lutadora extraordinária. A sua circunstância de ser alentejana é um dado a ter em conta na interpretação de alguns aspetos da sua obra, mas não são determinantes. Enquanto mulher despertou várias paixões e era muito disputada. Quando nos debruçamos sobre a obra desta artista constatamos que a questão de ser mulher é tão relevante ainda, porque o facto de ser mulher a condicionou. Foi uma mulher comprometida com a sua vocação e profissão, ela escolheu ser pintora e percebe-se que é uma questão fundamental para ela e que é a vida dela.

O modernismo da Estrela Faria situa-se numa herança modernista que tenta fazer pontes e em algumas obras tem uma nuance expressionista, na época de 50, em que a modernidade era a abstração. O torso nu (1949) é o trabalho mais moderno dela numa perspetiva de História de Arte.”

Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte, Conferência Conference Estrela Faria – DRCAlentejo / Évora, 2023

Torço nu, Estrela Faria, 1944. Nº de Inventário: 70P755. Fotógrafo: Paulo Costa. CAM-Centro de Arte Moderna Gulbenkian, Lisboa

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Miguel Louro

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Miguel Louro

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

Sem título, Estrela Faria, 1944. Aguarela s/ papel, A. 70 x L.58 cm.Fotografo Arnaldo soares. Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado .Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF)

Travessa André Valente, Estrela Faria (1910-1976), MC.PIN.0022, Museu de Lisboa

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

Nº de Inventário: P1544. Estrela Faria (1910-1976), FotógrafoPaulo Costa, CAM-Centro de Arte Moderna Gulbenkian, Lisboa

 Cartão de Natal, Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

 Estrela Faria (1910-1976). Nº de Inventário: P1544. Fotógrafo: Paulo Costa, CAM-Centro de Arte Moderna Gulbenkian, Lisboa

Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares

“Gosto muito de poesia e, embora não tenha versos publicados, sempre que vejo um papel branco precipito-me sobre o papel antes de começar a desenhar. A pintura para mim significa tudo, mas a poesia é uma forma de evasão, embora a pintura de uma certa maneira também o seja, desde que não seja comercial. A pintura que faço para viver, para me manter no dia a dia, é uma pintura que tem de obedecer aos requisitos do fim a que se destina. É uma pintura mais decorativa, sendo uma pintura imaginada para expor, ou justamente para nos evadirmos. É uma pintura mais inteletual, portanto gostamos mais dela, apreciamo-la mais”.

Rascunho do poema “Girasol”, Estrela Faria 1968, arquivo pessoal de  Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

Rascunho de poema, 1956, Estrela Faria 1956, arquivo pessoal de Sílvia Soares. Fotografia João Bettencourt Bacelar

“Estou cansada de arrumar flores

de arrumar-me dentro de molduras

estreitas e vazias

de viver em espaços limitados

pelos tubos e nacos de papel

de sentir o meu caminho sempre longo profundo

penetrante e infinito

de lutar para sair de mim plenamente

de expandir-me em todos os sentidos

dos que me entendem não espero resposta

as paredes, os móveis desta casa, as ruas desertas,

as calçadas, as horas solitárias dos serões

terei de lutar sozinha

absoluta

contra as barreiras do tempo

da matéria e da angústia

para que um dia as flores sejam livres comigo”

 

Estrela Faria, 1968

Rua Diogo Cão, Évora. Estrela Faria (1910-1976), arquivo pessoal de of Sílvia Soares

A pintura da Rua Diogo Cão em Évora, com o passadiço que já não existe, da altura em que as casas pertenciam à mesma família. Quando foram vendidas, mandaram-no abaixo.

Estrela Faria, escultura em granito sueco António Duarte, 1950. Museu António Duarte, Caldas da Rainha

“Recordo-me muito bem da Estrela Faria. Era uma pessoa muito jovial, simpática e animada, muito amiga dos meus pais. Íamos lá a casa muitas vezes, os meus pais também eram artistas: o pai era escultor (António Duarte/1912-1998) e a mãe pintora (Regina Branco). Recordo-me da Estrela pintar a mãe na sua casa da Rua da Estefânia e do pai fazer o seu busto num atelier que tinha em Belém, que pertencia aos pavilhões da Exposição do Mundo Português. O pai quis fazer essa escultura não só porque eram amigos mas também porque a Estrela Faria era uma pessoa esteticamente muito interessante. Acho este artigo muito merecido. Sempre me espantou como uma artista tão boa como ela, com obras extraordinárias, não ser falada.”

Filipe Duarte Santos,

Geofísico, investigador e professor universitário Lisboa, 2023

Exposição do Mundo Português (1940), Estrela Faria. Fotografia Mário Novais, Arquivo Nacional National Archive da of Torre do Tombo.

Lamentavelmente, alguns dos extraordinários trabalhos de Estrela Faria foram destruídos ao longo dos anos. Como por exemplo o painel alusivo ao Padre António Vieira na Escola Secundária Padre António Vieira, em que os responsáveis pela intervenção da Parque Escolar decidiram eliminar por se encontrar degradado, em vez de o restaurar.  Ou os sublimes frescos no edifício dos CTT em Setúbal, cujo registo através das fotografias de Mário Novais (Biblioteca/Fundação Calouste Gulbenkian), permite-nos apenas imaginar a real beleza daquela obra.

nterior de edifício dos CTT. Imagem semelhante reproduzida na revista Panorama, vol. 4, nº 19 (Fev. 1944).Fotografia produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983.

Foi dado o nome de Estrela Faria a uma rua numa zona periférica de Évora. É a opinião desta revista que tão formidável artista eborense deveria ser homenageada com uma rua e uma estátua no centro da cidade de Évora, de forma a refletir a gratidão pelo seu trabalho e, o merecido reconhecimento do seu talento e mestria.

AGRADECIMENTOS

Alexandre Pais, Ana Paula Amendoeira, Ana Maria Borges, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Diogo Macedo, Direção Geral do Património Cultural, Direção Regional de Cultura do Alentejo, Escola Secundária Gabriel Pereira, Escola Secundária Rainha Santa Isabel, Filipe Duarte Santos, Four Seasons Ritz Lisbon, José Neves, Fundação Calouste Gulbenkian, Maria Emilia Araújo, Miguel Viegas Louro, Museu António Duarte, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu Nacional do Azulejo, Museu de Arte Popular, Museu de Lisboa, Museu Nacional do Teatro e da Dança, Nuno Moura, Posto de Turismo de Évora, Raquel Henriques da Silva, Sílvia Soares, Tribunal de Évora.