Por Susana Jacobetty. Fotografia João Bettencourt Bacelar.

MENDONÇA
Thomas Mendonça, artista plástico, nasceu em Paris em 1991, filho de mãe francesa e pai português.Aos dez anos vem viver para Portugal com a família, mais concretamente para Alcochete, onde estudou na Escola El Rei D. Manuel I. A adaptação ao novo país foi difícil, uma vez que não sabia falar a línguade Camões.

Faz o 11o e o 12o ano na Escola Secundária Artística António Arroio, em Lisboa, na área de Produção Artística em Têxteis. A sua intenção era mais tarde seguir o curso de Design de Moda, área que o fascinava, pelo que desenhava diariamente croquis de peças de roupa. Nesta escola, viveu um momento de clivagem que definiu o seu trajeto de vida.
“É uma escola que comporta imenso espaço para nos desenvolvermos criativamente, tem imensos recursos, e senti-me muito bem acolhido lá. É exigente mas dão-nos imensas ferramentas, muitas que ainda hoje me são úteis. Foi de alguma forma a escola onde eu mais aprendi”,
afirma Thomas Mendonça.

Sem Titulo, faiança, cola glitter, conchas, vidro. 33 x 8 x 8 cm (2019)
Mas cedo percebe que gostaria de explorar o design de uma forma mais ampla e decide-se pela licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design, a ESAD, nas Caldas da Rainha. Foi neste curso que retomou a prática e o gosto pela cerâmica, técnica que apenas tinha experimentado durante a sua infância em aulas extracurriculares.
Em 2013 começa o seu percurso de artista de uma forma natural. Ao longo desse ano experimenta vários caminhos e formas de se expressar. “Há uma linha condutora, como por exemplo, as formas, que são sempre muito orgânicas, e que correspondem claramente a formas da flora e da fauna, muito em torno dos corais e dos poríferos.” A sustentabilidade e o ambiente são dois temas que estão bastante presentes no seu trabalho.

Sem Titulo, faiança. Untitled, earthenware. 32 x 20 x 11 cm (2018)
“CONSIDERO CURIOSO QUE NÃO SEJA ÓBVIO A ORIGEM DO OBJETO, SE É UM FÓSSIL OU NÃO, E ESSA SENSAÇÃO DE ESTRANHEZA, INTERESSA-ME ENQUANTO ARTISTA.”
As obras de Thomas Mendonça são de uma forma geral brancas, porque é a cor da pasta que utiliza. “Gosto muito de deixar as peças com a cor e textura original, gosto da estética e da sua porosidade, do som e toque, mas também porque remete ao osso, ao esqueleto. Considero curioso que não seja óbvio a origem do objeto, se é um fóssil ou não, e essa sensação de estranheza, interessa-me enquanto artista. Algumas formas são figurativas, têm um lado pop com referências mais contemporâneas. No entanto, gosto de brincar como que é sagrado e profano, o natural versus o artificial, com a dicotomia de misturar conceitos. Por exemplo, uma imagem estilizada de um emoji, mas em cerâmica, que é terra com água e fogo. Explorar o cruzamento do conceito do elementar com o sofisticado é encantador e gosto de o expressar em várias formas criativas do meu trabalho.”

Nesta fase do seu percurso, o artista encontra-se a explorar diferentes formas de se relacionar com a cerâmica enquanto objeto, não só como obra de arte. Está num momento de descobrimento da peça enquanto objeto, presente no espaço para além da sua presença estética e estática, e que poderá vir a ter interatividade. Quer também começar a experimentar outro tipo de acabamentos, como por exemplo, os vidrados.
A influência do seu lado francês no seu trabalho não é evidente, no entanto a forma suave, descontraída e segura como encara a vida de artista em Portugal transmite um mindset, onde essa influência é notória. “Nunca senti dificuldade nesta forma diferente que escolhi de viver. Os prazos são diferentes e é uma forma diferente de obter rendimentos. Não existe um fluxo constante, tem muitas variantes, mas é uma forma muito interessante de praticar esta coisa que é viver. Sinto-me bem com a minha vida, confortável. Sinto que o facto de partilhar duas culturas, comportar em mim duas culturas divergentes, permite-me
uma visão transversal, de quem está dentro e também está de fora.”

Sem Titulo, faiança, cola glitter, conchas, vidro. 33 x 8 x 8 cm (2019)

Num futuro próximo, Thomas Mendonça gostaria de ir viver para o campo: “Acertar-me com esse ritmo é uma necessidade, ter mais contacto com a terra, mais tempo, e não estar nesta saturação da cidade, que me cansa-me muito.” Thomas Mendonça tem vindo a mostrar o seu trabalho tanto em exposições individuais como coletivas ao longo dos últimos dez anos. A Galeria Analora, o Museu Nacional de Arte Contemporânea, a Galeria CabanaMAD, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, a Galeria Foco ou o Teatro Taborda são alguns dos espaços em que as suas obras já foram exibidas.

Sem Titulo, faiança. Untitled, earthenware. 25 x 12 x 12 cm (2018)

Sem Titulo, faiança. Untitled, earthenware. 25 x 12 x 12 cm (2018)