Por Susana Jacobetty
O Bairro da Bica foi o vencedor da Grande Marcha Popular de Lisboa 2023. Ganhou nas categorias de Melhor Desfile, Melhor Coreografia e Melhor Letra. O popular Bairro da Bica na Freguesia da Misericórdia em Lisboa, localizado em pleno centro histórico, é um dos mais antigos e tradicionais da capital e conta com mais de 500 anos de história. A tradição das Marchas Populares de Lisboa, que começou em 1932, contou ontem na Avenida da Liberdade, com a presença de 20 bairros alfacinhas.
O tema das Marchas Populares de Lisboa 2023 foi “Os 100 anos do Parque Mayer” e, todos os bairros têm o seu próprio sub tema. O do Bairro da Bica foi “Um Cantinho Para A Gente”. Esta temática vem no seguimento dos vários problemas que o bairro tem enfrentado nos últimos anos devido à especulação imobiliária, que tem obrigado vários moradores a abandonar o seu bairro. Muitas das casas onde nasceram são agora alojamentos locais, o próprio Marítimo Lisboa Clube, (Casa do bairro da Bica) teve de sair da sua sede e neste momento não tem sequer instalações físicas.
PODEMOS SAIR DA BICA
A BICA NÃO SAI DE NÓS
E SE ISTO NÃO É AMOR
EU NÃO SEI O QUE SERÁ
A Bica brilhou e encantou na Avenida, com os figurinos de Dino Alves. O reconhecido designer de moda português, foi convidado pelo Marítimo Lisboa Clube, entidade organizadora da Marcha do Bairro da Bica, para criar, pelo segundo ano consecutivo, os figurinos para o grande desfile das Marchas Populares de Lisboa. Com uma imagem impactante, de grande beleza e diferenciadora, em que o design, a escolha dos tecidos e das cores foram fundamentais, Dino Alves cruzou magistralmente a alta costura com a cultura popular, conseguindo traduzir o coração da bica em todo o seu esplendor.
“A coroa é feita com braçadeiras que se usam para agarrar os fios eléctricos e, depois pintada de metalizado, fica com um ar de esplendor, de aura, que também remete para a envolvente religiosa. As camisas de homem têm uma laçada e são 100% algodão, as calças são feitas num bom tecido, fluído, com todos os preceitos, têm bolsos, fecho e cós, o que não é usual nas peças de desfile. Para as marchantes, as saias foram feitas em satin duchesse, cortadas a lazer e bordadas a tule. As blusas são de organza e os coletes em sarja de algodão.”
Dino Alves
“ESTE ANO É O ANO” disse Américo Silva, o ensaiador de sempre do Bairro da Bica, ainda durante a tarde, muito antes de saber que seriam de facto os vencedores no final da noite.
Com música de Miguel Ramos, letra de Tiago Torres Da Silva, coreografia de Américo Silva e Marco Mercier e com os figurinos de Dino Alves, o Bairro da Bica rumou para a vitória. A Magazine esteve lá e gritou com eles:
A BICA É LINDA!
“Nunca ouvi uma frase tão certa como Coração que vai à Bica é Coração que lá Fica. Independentemente do que acontecer, até poderá vir uma tempestade, mas estamos sempre à espera da bonança. Esta mudança no bairro acaba por ser o espelho disso, até podemos estar mais desmotivados, mas o foco e o amor que se tem à Bica e aquilo que o Bairro nos transmite, enche-nos de tal forma que não dá para recusar, não dá para ir embora.”
André Ribeiro, 30 anos, natural da Figueira da Foz, mas Bicaense de coração.
Tiago Torres da Silva, padrinho da Marcha da Bica 2023 e, vencedor na categoria de Melhor Letra.
“Marchar pela Bica é a minha vida, é uma segunda vida que eu tenho aqui. Nasci e cresci aqui no bairro, os meus pais, a minha irmã e os meus teus foram todos marchantes e, eu comecei a marchar com 14 anos, tenho 32. Coração que Lá vai, Coração que lá Fica, e Se isto não é Amor Eu não sei o que Será, é mesmo assim, nós todos gostamos mesmo muito disto. A Bica é o meu bairro. Já não vivo aqui, tive que mudar de casa quando venderam o meu prédio, hoje é um alojamento local, eu morava ali no número 41.”
Irina Faustino, 32 anos,
“Vivo aqui na Bica e estou a desfilar pela primeira vez, gosto muito, a minha mãe também está aqui. Quando estou a marchar sinto alegria.”
Iris Domingos, 10 anos , mascote da Bica 2023 e residente do bairro
“É a primeira vez que desfilo pelo bairro da Bica, gosto muito das Marchas de Lisboa. Sou de Vila Nova de Gaia, mas é muito gratificante ver as pessoas vestirem a camisola pelo seu bairro, é uma tradição muito antiga e vive-se com tanto amor, com tanta garra, que realmente é um gosto poder participar e partilhar este momento tão especial. Fiquei muito orgulhosa quando me escolheram para ser madrinha da Bica. Quando desfilo sinto uma adrenalina imensa, fico muito emocionada. Desfilamos no pavilhão fiquei muito orgulhosa dos meus afilhados tão bonitos. Sinto mesmo que estou a defender e a proteger o meu bairro. A Bica é diferente dos outros Bairros porque é o melhor.”
Débora Monteiro, actriz e madrinha da marcha do bairro da Bica 2023
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