Por Carla Chambel
O espaço onde os fazedores de cinema e o público se podem encontrar.
Em 2022, estrearam nas salas 48 longas-metragens portuguesas, 34 de ficção e 14 documentários. Embora os números de público nos cinemas ainda esteja longe da ascenção que ocorreu até 2019, a verdade é que o Cinema Português voltou com um novo fôlego pós-pandemia. A diversidade de temáticas, linguagens e equipas artísticas abre espaço para que, no nosso cinema, o público (também ele muito diverso) possa encontrar histórias com as quais se identifique.
Os festivais nacionais também são grandes responsáveis pela divulgação e distinção do cinema português e, esses, têm uma afluência crescente, o que revela que o público está sedento de ainda se deixar encantar pelo grande ecrã.
Lá fora, os festivais internacionais, como o de Veneza, Cannes ou Locarno, estão também eles mais receptivos ao Cinema Português, confirmando através de prémios principais ou de competições paralelas, o talento nacional. Sendo considerados os Óscares como o altar-mor do cinema internacional, é impossível ficar indiferente à primeira nomeação da história de um filme português – Ice Merchants, de João Gonzalez – uma tocante curta-metragem de animação, no ano em que se comemoram os 100 da animação portuguesa.















Na Academia Portuguesa de Cinema desenvolvemos várias iniciativas a fim de cumprir o nosso maior objetivo: divulgar o Cinema Português cá dentro e lá fora. O ano passado, por exemplo, tivemos a colaboração com a Netflix, a fim de eleger 5 filmes escritos, realizados, ou produzidos por mulheres portuguesas, disponibilizados para todo o mundo durante um ano, pelo menos. https://www.academiadecinema.pt/convocatoria-aberta-para-mulheres-cineastas-portuguesas/
Mas a face mais visível da Academia são os Prémios Sophia, que celebram entre os pares, o que de melhor se fez no ano anterior. Curiosamente, em 2023, estavam nomeados 4 filmes, em que a temática das raízes, das tradições, estava presente em todas as histórias, fazendo uma reflexão entre o passado e o presente e como isso influencia o percurso das personagens. Em termos de paridade, tivemos duas realizadoras e dois realizadores nomeados, o que reflete uma maior abertura para o reconhecimento do cinema no feminino. O grande vencedor da noite foi Alma Viva, da Cristèle Alves Meira, a primeira obra da luso-descendente, que arrecadou 6 prémios.

Mas o Cinema faz-se de pessoas e, este ano, a direção e a equipa da Academia, decidiram atribuir o Prémio Sophia de Carreira a Paulo Trancoso, não só pelo seu vasto percurso inovador enquanto produtor e realizador, mas também por ter sido o mentor desta ideia congregadora da Academia Portuguesa de Cinema, que concretizou em 2011. Ele é o presidente desde a sua fundação e considera ser esta a sua maior obra.

O futuro do cinema também depende dos jovens e, por isso a Academia tem procurado proporcionar aos jovens portugueses o acesso ao Cinema Europeu e aos seus fazedores. Desde 2016 participa no Young Audience Award da European Film Academy, em que jovens, de mais de 35 países, dos 12 aos 14 anos, são jurados desta categoria, elegendo de forma democrática o filme vencedor. Mas a paixão pelo cinema ficou e os jovens ex-jurados resolveram construir algo mais abrangente – o European Film Club – um cine-clube europeu que permite que os jovens entre os 12 e os 19 anos tenham acesso a filmes europeus, de forma gratuita, contribuindo para a sua literacia cinéfila.







No núcleo duro deste cine-clube, a que chamam Youth Council, está a portuguesa Maria Bacelar, de 18 anos, que fez todo o percurso do YAA, e depois, durante a pandemia, fez parte da criação deste espaço fundamental de reflexão e partilha de ideias. Em 2022 foi a co-apresentadora da cerimónia oficial do YAA em Erfurt. Outras jovens portuguesas estão envolvidas neste projeto, participando em conferências internacionais sobre cinema. Nesta altura, a plataforma do EFC está em fase de testes e prevê-se que terá a sua verdadeira abertura ao mundo na altura da celebração do Cinema Europeu, no mês de novembro, dedicando um fim-de-semana aos jovens cinéfilos. Será o Young Audience Weekend, nos dias 4 e 5 de novembro de 2023, acessível aos jovens dos 12-19 anos, por toda a Europa.

Acreditamos, por isso, que uma forma de conquistar mais público para o cinema português e europeu é fazer este trabalho de proximidade entre os fazedores de cinema e os jovens, proporcionando conversas, reflexões, entrevistas, workshops. A partilha de histórias é aquilo que nos apaixona e, muitas vezes, até é o mote para o próximo filme.








































