Exposição Trovisco de 21 de outubro de 2021 a 13 de fevereiro de 2022

Capa do Catalogo
A exposição Trovisco nasceu por sugestão da Professora da Universidade de Évora Cristina Barrocas Dias, numa reunião destinada a estabelecer projetos de cooperação entre a autarquia de Arraiolos e a Universidade de Évora, .
A ideia inicial consistia em produzir obras de arte utilizando corantes naturais e daí o título ostentar o nome desta planta, utilizada até ao século XIX para tingir as lãs dos tapetes de Arraiolos.
Entretanto, entrámos nos anos da COVID-19 e foi difícil levar a cabo um projeto tão específico.
Simultaneamente, verificou-se que no Colégio dos Leões, onde laboram as Artes Visuais, aumentou sensivelmente do número de trabalhos utilizando ou referenciando práticas têxteis.
Decidimos trazer para a exposição Trovisco os seguintes, realizados por atu- ais ou antigos alunos de doutoramento, mestrado ou licenciatura:
Regressos de Maria Santana é uma longa tapeçaria que utiliza uma multi- plicidade de materiais têxteis convencionais ou inesperados. Aludindo indire- tamente aos vestidos que Maria ajudava a sua mãe a confecionar na adoles- cência, esta elegante peça, uma cascata de fios e cores, tem também para a autora um denso simbolismo.
Próxima do vestuário é também o conjunto/módulo de cianotipias sobre papel de Nuno Abelho. Abelho, que tem também prática como designer de moda, compôs um vestido feminino, partindo da recolha de um herbário realizado pela técnica fotográfica redescoberta da cianotipia. Trocou assim o vestir pela fragmentação do olhar.
Francisco Damasceno dos Santos construiu, a partir de paletes de madeira recicladas, duas grandes assemblages, reminiscentes dos antigos teares, nos quais interveio com fios de lã enrolados e também gravações, semelhantes às inscrições nas grutas paleolíticas. São ao mesmo tempo peças brutais, que transportam para a memória industrial, mas ao mesmo tempo exibem um de- licado e frágil equilíbrio.
Catarina Custódio compôs um tríptico, em que cor e a textura competem para nos darem uma imagem subtil de uma ondulação de lava, quase marítima, ou de uma cartografia.
Rúbia Uchôa possui um imaginário pleno de acontecimentos e diálogos com os outros, sempre fortíssimos e imprevisíveis, que se consubstanciam em co- res e linhas formando ícones do quotidiano e palavras muito agudas.
A presença do bordado transmite-nos uma sensação da vida extremamente intensa de um ser que só aceita ser absolutamente livre.

Carolina Condeça

Nuno Abelho
Organização Filipe Rocha da Silva
Presidente da Câmara Sílvia Cristina Tirapicos Pinto
Responsável Técnico Rui Lobo (CITA)
Produção, Comunicação e Montagem CITA
Textos Sílvia Pinto e Filipe Rocha Silva
Design Inês Martins e Rita Castelo
Fotografia Miguel Gonçalves e autores
A peça de Carolina Condeça, Laços Kàrmicos, estabelece uma comunicação e um vínculo improvável entre dois polos distantes e opostos, de cores extremas. Não nos são revelados, no entanto, quais são esses polos que, devido à sua configuração, têm um caráter acentuadamente tátil, feminino e sensual.
Guilherme Almeida foi um brilhante artista de São Salvador da Bahia que estudou em Évora num programa de intercâmbio. Deixou-nos ficar a maque- ta sobre uma criança que recorre ao lúdico e à imaginação, para contrariar e iludir a miséria e discriminação nas ruas das cidades brasileiras. Uma criança mágica voa assim sobre uma pipa ( papagaio) que, neste caso, se assemelha muito a um tapete.
As peças têxteis de Iara Duque seguem uma linha de pesquisa sobre a forma, sistemática e modernista, questionando permanentemente a expressão rela- cional de linhas ou manchas de cor intensa, a sua verticalidade ou horizontalidade, o bi- ou tridimensional e a natureza ambígua das superfícies e dos objetos.
Finalmente, pode ser surpreendente e mesmo provocatório ver o Estendal Comunitário de Pedros Feio num centro interpretativo como este. Ele acrescenta a esta exposição, no entanto, o elemento contextual e utópico, que, lembrando do dia a dia das nossas roupas, apela a um futuro coletivo e não individual. A arte de Feio celebra, com um espírito duchampiano, a ausência da dimensão estética.
Sendo muito diversos, todos estes trabalhos são um testemunho da perenidade e atualidade para as gerações recentes do trabalho artístico alusivo ao têxtil. Para que tal aconteça, muito contribui o impacto do tapete de Arraiolos, bem documentado neste Centro Interpretativo, bem como outras obras têx- teis tradicionais e notáveis, do passado.
Filipe Rocha da Silva
Lara Duque, Nuno Abelho, Pedro Almeida, Rúbia Mausse, Catarina Custódio

Francisco Damasceno