Flamenco suas Raizes e História

Por Maria Jacobetty Bacelar

Café Cantante El Burrero de Sevilla 1888. Fotografia de Emilio Beauchy Cano (1849-1931)

O Flamenco é um gênero de música e dança originário das tradições culturais da Andaluzia, no sul de Espanha, e foi declarado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2010. As suas origens remontam ao século XV, e têm raízes antigas e diversas, nomeadamente mouras, ciganas e judias. Esta fase primordial, é conhecida como pré-flamenca e vai até o último terço do século XVIII. Mas somente nos últimos 200 anos, entre 1869 e 1910, o flamenco ganhou destaque com o surgimento dos primeiros Cafés Cantantes, locais onde aconteciam espetáculos, e a dança era uma das principais atrações, sendo o chamado palco da Era de Ouro. Com o tempo o flamenco evoluiu, e hoje é considerado uma das expressões culturais espanholas mais populares.

Making of da entrevista a Patricia Guerrero para a edição número 1 da A Magazine. Palácio de Las Dueñas, Sevilha 2021.

Na música e na dança flamenca existem vários estilos e ritmos diferentes, como as bulerías, alegrias, rumbas, sevilhanas, fandango, siguiriyas, tango, entre muitas outras, e todas essas variações têm sua própria história. Por exemplo o Tango Flamenco, tem origem nas cidades de Sevilha e Cádiz, e desenvolveu-se a partir de danças antigas e cantos primitivos. Tem um ritmo alegre próprio, pode ser interpretado com movimentos de grande beleza e expressividade, e é uma das artes mais antigas do flamenco.

Patricia Guerrero. Palácio de Las Dueñas, Sevilha 2021. Fotografia e video João Bettencourt Bacelar.

O Flamenco é tradicionalmente dançado a solo com instrumentos musicais a acompanhar. Uma típica música flamenca é muito específica composta por quatro elementos: dança, canto, viola e cajón (caixa de madeira) e o jaleo (incentivo com palmas e palavras aos intérpretes como olé e guapa). O baile flamenco é uma dança de paixão, onde se expressam uma grande variedade de emoções, desde a tristeza à felicidade. A técnica é complexa, variando conforme o executor seja masculino, movimentos mais pesados, ou feminino, movimentos mais suaves e elegantes. Quando um bailaor está em estado de graça, a excelência acontece sem esforço, e é absorvida/o pelo dom extraordinário de traduzir com seus movimentos a arte das emoções puras, a beleza profunda do flamenco, a este momento chama-se El Duende.

Casa Patas, Madrid 2018. Fotografia João Bettencourt Bacelar.

A origem do vestido flamenco é muito humilde, no início do século XIX, eles envergavam um vestuário simples. Eram usadas pelas camponesas, muitas vezes ciganas, quando acompanhavam os maridos nas feiras de gado de Sevilha. Por acrescentarem aos vestidos babados, bordados e cores, as damas da nobreza e da alta sociedade começaram a notá-los e, em 1929, tornou-se o vestido oficial para se ir à feira. Com o passar do tempo, o figurino foi se transformando, tem uma indústria de moda própria, e atualmente uma das principais características são as cores vibrantes e alegres. Os tecidos de bolinhas e a cor incarnada estão profundamente presentes no Traje de Flamenca, mas aqui a criatividade não tem limites, então os trajes podem mudar muito. Normalmente, as mulheres usam vestidos com babados nas mangas ou na saia, xales, broche, leques, acessórios típicos para a cabeça como flores, peineta e pentes ornamentais, brincos, colares, pulseiras e castanholas. O penteado é bem clássico, seja com coque ou com rabo de cavalo baixo, porém as flores da cabeça devem ser apenas uma no alto, ou uma ou várias na parte baixa do lado direito perto da orelha. A maquiagem é altamente elaborada. Os sapatos de flamenco devem ser feitos à mão, com o processo que começa na colagem do couro com pregos, permitindo à sola o seu som característico e único ao dançar. Mais de 300 mil pregos são colocados na sola e no salto dos sapatos.

Pintura a Óleo, Palácio de Las Dueñas, Sevilha.

Poster Sevilha.

Patricia Guerrero. Palácio de Las Dueñas, Sevilha 2021. Fotografia João Bettencourt Bacelar.

É possível ver a arte do Flamenco nos mais diversos ambientes e ao longo do ano. Málaga, Granada, Madrid e Sevilha têm casas próprias, como a Casa Patas ou Los Gallos, com espectáculos muito intimistas todos os dias, assim como o Flamenco Tablaos, clubes de flamenco que se tornaram pontos de referência na preservação e promoção desta arte imaterial. Sendo o mais reconhecido, o Tablao El Palacio Andaluz em Sevilha, que tem dois espetáculos por dia. Na Feria del Sevilla em Abril e na Feria del Rossio em Junho, eventos culturais tradicionais onde as famílias vão às casetas para dançar e cantar durante vários dias, no Museu do Flamenco em Sevilha, em espetáculos do Ballet Nacional da Espanha, em festivais, ou mesmo nas ruas. E, claro, em escolas onde todos podem começar a aprender a qualquer momento.

Patricia Guerrero. Palácio de Las Dueñas, Sevilha 2021. Fotografia e video João Bettencourt Bacelar.