José Pedro Croft

Por Susana JAcobetty

Fotografia João Bettencourt Bacelar

A A Magazine falou com o artista plástico José Pedro Croft na inauguração da sua exposição individual, Caminhos Cruzados, com obras da Coleção António Cachola, no MACE, Museu de Arte Contemporânea de Elvas.

A exposição, cuja inauguração está incluída nas comemorações dos 15 anos do Museu, apresenta 60 obras entre escultura, desenho e gravura, reunidas ao longo dos últimos 25 anos, e é uma curadoria compartilhada entre o artista e o colecionador.

Que pergunta gostava que lhe tivessem feito numa entrevista e nunca fizeram?

Para mim o importante é o trabalho falar por si, eu convivo muito bem com esse silêncio. Fico muito aflito com os artistas que sabem o que é a sua obra e que a explicam muito bem. Tenho a convicção que a arte serve para pôr problemas e não dar respostas. Portanto, se me fala qual a pergunta que eu gostava que me tivessem feito, não tenho uma resposta para dar.

Nasceu no Porto, estudou em Lisboa, e inaugurou esta exposição no Alentejo, onde se sente mais em casa?

O Porto tem para mim o mundo da fantasia e da grande escala. Eu vivia no campo onde hoje é a Foz; havia vacas a pastar na Avenida da Boavista e ao mesmo tempo mar. Em casa dizíamos: vamos ao Porto. Era uma vida muito em sintonia com a natureza, não havia televisão e eu sou dessa altura. Vir para Lisboa foi muito interessante porque estudei na Universidade de Belas Artes a seguir ao 25 de Abril. Foi um momento de grande euforia,

de grande explosão. Lisboa nos anos 80 era como se fosse um aeroporto. Estavam sempre pessoas a chegar e a sair. Era uma enorme plataforma de expansão. Era muito interessante.

E relativamente ao Alentejo?

Há uma relação forte que tem a ver com o João Cutileiro (escultor português 1937-2021). Eu trabalhei com ele.
E depois há outra ligação que me emociona bastante.
A minha mãe é do Alentejo. É de Elvas. Maria Ermelinda Picão Caldeira e é de uma família muito antiga de Elvas, onde viveu até aos 6 anos. Depois voltava sempre na Páscoa. As memórias que tinha da sua infância – é muito engraçado – estavam sempre ligadas ao Alentejo e sempre ligadas a Elvas. Eu vivo

e trabalho em Lisboa. Viajo por trabalho. Não saio para festas. Não tenho uma vida social muito alargada. Tenho um núcleo pequeno, mas quando chego a Elvas sinto aqui as minhas raízes; sinto uma ligação com a terra.

O Alentejo é uma coisa de alma. O que sinto em relação a Elvas são memórias. Se tem alguma influência nas minhas obras, é de forma inconsciente.