ENOTURISMO POR MARIA JOÃO DE ALMEIDA

Não sei se repararam mas, desde que a pandemia iniciou, a procura de espaços rurais e o consumo de vinho aumentou. Agora que já sabemos lidar com o vírus, e que o país começa a funcionar novamente, acredito que o Enoturismo será um dos sectores que mais vai evoluir, tendo em conta o interesse que tem vindo a despertar nos últimos anos. Aliás, essa evolução já é bem evidente, com produtores e empresas turísticas a sobressair, tanto ao nível das instalações, dos produtos e serviços, da inovação e da sustentabilidade. Obviamente, há ainda muito trabalho por fazer, mas Portugal bem pode orgulhar-se de contabilizar um bom número de unidades e serviços de enoturismo que não ficam atrás de nenhum outro no mundo.

O Enoturismo surgiu porque a qualidade do vinho aumentou, graças à evolução dos novos conhecimentos e técnicas. O consumidor reagiu a esta melhoria, procurando novos saberes, histórias, e vontade de viver experiências relacionadas com o vinho. As empresas começaram então a ver o Enoturismo com outros olhos e avançaram com novos investimentos. Surgiram novas infra-estruturas: adegas, unidades hoteleiras, restaurantes, lojas, empresas de serviços de animação turística, entre outros, que servem um conjunto de pessoas de várias idades, de diferentes nacionalidades, e com diferentes objetivos. Tal como acontece em outros países, há sempre regiões mais fortes que outras, e em Portugal o Alentejo é uma das mais fortes e aquela onde existe uma maior oferta.

Terra de clima quente e planícies a perder de vista, cobertas de vinha, de cereais, de oliveiras, ou pintalgada de sobreiros, Depois, há também a paisagem de serra, com outros encantos, mas também habitada por vinhas. Durante as primeiras décadas do século XX, o Alentejo foi o celeiro de Portugal, dada a importância da cultura cerealífera de sequeiro. O vinho tinha uma importância secundária e destinava-se essencialmente ao consumo local. A vinificação era realizada segundo os processos tradicionais herdados dos romanos e a fermentação realizava-se em grandes ânforas de barro.

Em boa hora a situação alterou-se, já que o enorme potencial do Alentejo enquanto produtor de vinho tornou-se uma realidade, sendo hoje o preferido do consumidor português. O renascimento da viticultura alentejana nos anos 50 deu-se através das adegas cooperativas que conseguiram estruturar o sector produtivo. No entanto, será na década de 80 que a região dará um enorme salto, desenvolvendo-se através de novas associações de viticultores, novos produtores, equipamentos e conhecimentos técnicos trazidos de fora.

Hoje, é caso para dizer que o Alentejo está muito à frente. Pela sua imensidão territorial, tem três rotas do vinho e uma oferta muito variada de locais para visitar: adegas (com ou sem estadia e refeições), mas também empresas turísticas complementares, restaurantes e hotéis independentes espalhados pela região. A sua paisagem, tanto no interior como junto ao litoral, é encantadora, tendo ganho já vários prémios a nível nacional e internacional, e destaques em diversas publicações de referência. Foi, também, a primeira região a promover um programa de sustentabilidade, hoje tema tão em voga. Nomes sonantes como a do Sobroso, entre tantos, tantos outros, fazem parte de um território com uma crescente visão estratégica. Por isso não é de estranhar que o enoturismo seja a nossa salvação! A salvação de todos aqueles que agora, (quase) livres da pandemia, querem continuar a viajar e a viver experiências sensoriais únicas. Querem conhecer histórias e as nossas tradições. E um sector que também pode ajudar, e muito, a alavancar a economia do país.

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