Por Susana Jacobetty
Fotografia João Bettencourt Bacelar

A exposição Love – Marrakech Opened my Eyes to Color estará patente no Palácio Duques de Cadaval em Évora, Alentejo, de 5 de junho a 31 de outubro de 2022.
Organizada pela Casa de Cadaval, com o conceito e co-criação de Madison Cox, Presidente da Fondation Pierre Bergé – Yves Saint Laurent, a mostra pretende proporcionar uma experiência imersiva no Amor que o designer de moda Yves Saint Laurent tinha por Marrocos, pelas suas cores e envolvência.

Al Kalima (A Palavra / The Word), Sara Ouhaddou, 2020
Love – Marrakech Opened my Eyes to Color pode ser contemplada em 3 momentos distintos: na igreja de São João Evangelista, através da mostra de 15 coordenados cujo styling é realizado com peças de desfiles YSL de anos diferentes, curadoria de Stephan Janson; no interior do Palácio, em que a curadora Mouna Mekouar convida a uma viagem entre o passado e o contemporâneo por intermédio de 12 artistas marroquinos, tendo como ponto de partida e fio condutor as cores dos cartões de felicitações que Yves Saint Laurent desenhou, ao longo de 27 anos, com a palavra LOVE; e um terceiro momento com Alexandra de Cadaval como curadora em que se homenageia Pierre Bergé, pelo incentivo e apoio a Noureddine Amir, o primeiro designer de moda marroquino a apresentar uma coleção de alta costura em Paris. A exibição tem também inerente uma programação musical marroquina inédita, tendo por intuito ampliar e celebrar o património cultural deste país, musa inspiradora de Yves Saint Laurent.

Alexandra de Cadaval e Madison Cox
“Esta exibição é uma grande honra, um momento único e especial; marca a abertura do Palácio depois de 2 anos de renovações. Abrimos as nossas portas com uma programação ambiciosa, com a sorte de termos ao nosso lado a Fondation Pierre Bergé – Yves Saint Laurent e podermos prestar um tributo a Yves Saint Laurent e a Marrocos. Para além de esta ser uma parceria inédita em Portugal, queremos também partilhar a nossa descoberta de artistas contemporâneos marroquinos, que acreditamos que será uma boa surpresa. Neste momento Marrocos é o país africano que mais investe em dar visibilidade aos seus artistas contemporâneos, de forma a que o mundo os descubra. Um dos maiores colecionadores de arte contemporânea marroquina é Sua Majestade o Rei de Marrocos Maomé VI.”

Madison Cox
“Como Presidente das Fondation Pierre Bergé – Yves Saint Laurent em Paris e em Marraquexe, quando a Alexandra de Cadaval me contactou com esta ideia já há alguns anos, antes do Covid, fiquei muito intrigado, porque seria uma enorme honra poder exibir Yves Saint Laurent em Portugal, situação que nunca aconteceu. Por isso, pareceu-me muito interessante poder expor a fonte das suas inspirações e influências, o país de onde vinham muitas das suas ideias. Marrocos foi um lugar muito querido e importante para Yves Saint Laurent, com grande relevância nas suas criações. Poder abrir este diálogo entre Portugal e Marrocos, que historicamente já têm um laço muito forte, e também dar ênfase à cultura e patrimônio marroquino, ter a possibilidade de apresentá-lo não só ao público português como também ao internacional é um privilégio. Foi uma ideia criada em conjunto, entre a Fondation Yves Saint Laurent de Paris e de Marraquexe e o Palácio de Cadaval e é uma grande honra podermos estar aqui neste sítio extraordinário e de grande beleza em Évora. Tenho uma enorme admiração por Portugal.”
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“Estou muito grato a Madison Cox por esta oportunidade. Só 3 dos 15 looks estão coordenados como o foram nos seus desfiles originais, o styling dos outros looks foi coordenado tendo em vista a inspiração notória em Marrocos no design de YSL. As peças, que são um empréstimo da Fondation Pierre Bergé – Yves Saint Laurent e de colecionadores particulares, mostram que o seu design é intemporal. Por exemplo, um dos looks tem uma camisola da coleção de primavera de 1973 e está coordenada com uma saia da coleção de inverno de 1977. YSL desenhava coleções para mulheres, não para estações. Estas peças são influenciadas pela forte inspiração marroquina, que é visível em várias coleções do seu trabalho. Eu quis passar uma imagem da vida em Marrocos. A ideia das modelos com a cabeça coberta, não é exclusiva das mulheres muçulmanas. A minha avó, por exemplo, que era cristã, nunca entrava na igreja sem a cabeça coberta. Gosto desta ideia de poder mostrar os coordenados numa igreja. Só dois dos modelos não têm a cabeça coberta e representam algo muito importante para YSL, que acontecia muito com os compradores da marca: às vezes encontravam-se e estavam com peças semelhantes; normalmente as mulheres não gostam dessa coincidência, de estarem vestidas de igual, mas com as mulheres Saint Laurent era diferente, era fazerem parte de um clube. Mesmo não se conhecendo, reconheciam-se como les bonnes personnes.”





“O meu critério na seleção das obras baseou-se em poder mostrar como Yves Saint Laurent foi inspirado pelas cores de Marrocos. Usei a ideia dos cartões de felicitações como ponto de partida, para poder mostrar como artistas contemporâneos, tanto baseados em Marrocos como no estrageiro, são muito inspirados pelas cores, e como concebem a cor nas suas obras. É uma maneira de falar sobre YSL de outra forma, numa perspetiva contemporânea, de como foi relevante utilizar a cor no seu trabalho da mesma forma que os artistas plásticos o fazem. Alguns dos artistas que escolhi são muito reconhecidos e outros muito jovens e desconhecidos, mas muito interessantes. A minha ideia foi trazer artistas com diferentes linguagens e de diferentes gerações, sendo o que têm em comum é a cor das suas obras com as cores YSL. Fiquei muito surpreendida ao aperceber-me da maneira como todos usavam as cores de Marrocos nos seus trabalhos. Todas as salas do Palácio têm cartões de felicitações de YSL, em que escrevia sempre LOVE. Estes dão o mote cromático e definiram os artistas que escolhi. Visualmente resulta muito bem. Conseguimos perceber que viram o mesmo país.”




Alexandra de Cadaval. Peças de alta costura de Noureddine Amir, 2010