Ana Telles

Fotografia: João Bettencourt Bacelar, Styling Susana Jacobetty com Nuno Abelho Atelier, maquilhagem e cabelos Carolina Mendes.

Nasci em Lisboa e aí fiz os meus estudos iniciais. Desde cedo, percebi que, apesar da minha apetência para as ciências (em especial a biologia), era a música que me definia e estruturava. Após um bacharelato em piano na Escola Superior de Música de Lisboa, segui para Nova Iorque, prosseguindo a minha formação na Manhattan School of Music e na New York University. Mais tarde, em Paris, estudei com Yvonne Loriod, pianista maior do séc. XX e figura inspiradora do compositor Olivier Messiaen, cuja obra o meu interesse prévio pela ornitologia me impeliu a apreciar e estudar com particular afinco. Doutorei- me na Universidade de Paris IV – Sorbonne com uma tese sobre Luís de Freitas Branco, compositor nascido em Lisboa e particularmente apegado ao Alentejo (como eu própria). No decurso do meu percurso formativo, fui bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia e do Programa Fulbright.

Em 2005, regressei a Portugal. Desde então, a minha atividade tem-se desdobrado, progressivamente, em quatro vertentes: a interpretação musical, a investigação, a docência e a gestão universitária, que concebo como facetas inseparáveis de uma mesma dinâmica. Enquanto pianista, mantenho uma intensa atividade concertística, tendo atuado em Portugal, na Alemanha, no Reino Unido, na Dinamarca, em França, Itália, Irlanda, Polónia, Croácia, Cuba, Taiwan, Coreia do Sul, Brasil, E.U.A e Canadá. Enquanto investigadora, tenho-me interessado pelo estudo da música dos sécs. XX e XXI, particularmente para piano.

Em 2009, integrei o Departamento de Música da Universidade de Évora, onde continuo a lecionar e a aprender diariamente com os desafios que essa atividade coloca.

Instalada em Évora desde 2017, assumi funções enquanto Diretora da Escola de Artes da referida Universidade. O diálogo entre as artes, e destas com outros ramos do conhecimento, tornou-se uma causa, uma bandeira, uma prioridade.

Disso é prova o meu envolvimento, bem como o da Escola que dirijo, na terceira edição do Festival de Música Contemporânea de Évora, recentemente levada a cabo (com o Festival DME e a Câmara Municipal de Évora). Esta cidade, cuja riqueza e relevância patrimonial foram reconhecidas pela UNESCO desde 1986, é também locus de experimentação e criação, pulsando ao ritmo da criatividade dos seus artistas e outros agentes culturais. A Escola de Artes e eu, pessoalmente, orgulhamo-nos de participar ativamente nessa dinâmica, contribuindo para alicerçar a identidade e o desenvolvimento de um Alentejo moderno.

Adicionalmente, tenho-me empenhado na internacionalização da Escola; em 2020, fui eleita membro do Board of Representatives da ELIA – European League of Institutes of the Arts, contribuindo assim para colocar a Universidade de Évora no centro de decisão dessa importante rede internacional. Para mim, cada concerto, cada novo artigo ou registo fonográfico, cada conquista para a Escola de Artes, cada realização de cada estudante, são catarse, libertação, dádiva e, simultaneamente, enriquecimento. Entrego-me por inteiro, aceitando o erro, a imperfeição e o limite que o momento impõe, mas acolhendo a beleza da comunhão indizível que se estabelece com os outros e a responsabilidade de lutar diariamente por causas em que acredito.

Ana Telles

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