Casa da Buba

Foi em 1990 que Rodrigo Pinto teve o seu primeiro Cão de Água, a Buba – ou antes a Buba 1 – que o acompanhava para todo o lado. No entanto, é com a Buba 2 que é fundada a Casa da Buba. Para Rodrigo, a Buba 2 era uma cadela fenomenal que “apesar de ser muito bonita, não gostava de participar em concursos. Não era uma cadela de competição em água, mas era uma matriarca e relações públicas absolutamente fantástica”. No ano de 2000 escolheu o Caracóis, um cão que conhecia e gostava muito, para ser o pai da sua primeira ninhada, da qual fez parte a Linda, uma cadela cujo nome se deve à sua beleza ímpar. Dois anos depois teve a ninhada em que nasceu uma das cadelas icónicas da Casa da Buba, a Petra. Rodrigo recorda-a como uma cadela absolutamente fantástica e excecional.

A mãe Golden, os filhos Amora e Vagabond, e o pai Gorila da Casa da Buba.

Para este criador, o Cão de Água Português tem características muito especiais. Desenvolveu com esta raça uma relação muito próxima e intensa, uma vez que os cães de água “gostam de sentir o calor humano, abraçam as pessoas, são cães de emoção, são filhos, são família”, explica. Estabelecem uma ótima relação com crianças, idosos, pessoas portadoras de deficiências, e são excelentes a detetar doenças como hipoglicemia e diabetes. Outra das características observadas por Rodrigo é a capacidade de “nadarem para os lados”. O Cão de Água tem uma grande capacidade de resistir ao frio e calor extremos, tem membranas interdigitais e consegue abrir a boca enquanto está submerso sem deixar entrar a água, ou seja, suspende voluntariamente a respiração fechando a glote.

É um cão com cabelo em crescimento, não tem subpelo. É sóbrio, altivo, voluntarioso, incansável, mantém a curiosidade, alegria, jovialidade e gosto pela aprendizagem durante toda a vida.

Cães de água portugueses da Casa da Buba.

O Cão de Água Português não é um cão hiperativo, é um cão que tem duas velocidades – muito tranquilo e muito enérgico – porque qualquer atividade, inclusive a brincadeira, é encarada como trabalho. Logo, a concentração é sempre na ordem dos 100%. “No mar, este cão estava sempre na proa à espera de uma ordem e quando a ordem vinha, tinha de ser executada no imediato”. Em operações de salvamento, a resposta é igual: imediata. “O cão está zen e tem que ter uma reação muito rápida, por isso vai do 0 ao mil num segundo”, explica Rodrigo Pinto. Se ficarem em casa sozinhos não precisam de muito espaço, mas é necessário informá-los que vão ficar sozinhos. Eles adaptam-se à sua realidade e conseguem, dependendo do contexto, compreender o que podem fazer, definindo quem é o comandante daquele espaço e adequando o seu comportamento em função disso. Em casa, são sossegados. Na rua, muito enérgicos.

É um cão de guarda com três níveis de alerta – atuam como o fizeram nos barcos durante séculos. O primeiro alerta é dado sem abandonar o barco, ao pressentirem alguém em terra. O segundo nível de alerta é dado com ameaça de morder, se alguém se aproxima do barco. O terceiro nível é de ataque, caso alguém entre no barco. São cães capazes de tudo para defender o dono, sendo excecionalmente competentes como guardas porque são muito protetores.

Petra Sarabi, Golden e Esterella da Casa da Buba.

Para Mónica Afonso, da Casa da Buba, “têm uma hierarquia muito definida. Com os humanos, existe um comandante e um subcomandante que eles escolhem. E, depois, a tripulação. Em matilha, há sempre o alfa que manda. Normalmente é uma cadela, e é uma luta difícil, são lugares muito discutidos entre eles. Há cadelas que não querem de todo ser líderes e outras que lutam para serem as alfas. Não é uma questão de tamanhos, mas de carácter.”

Em virtude de se situar em Lagos, a Casa da Buba tem vindo a desenvolver o projeto do Cão Salva-Vidas desde há quinze anos.

O Cão de Água Português, com um histórico de séculos ao lado do homem no mar, possui estrutura, perícia e conhecimento para atuar como cão nadador salvador. Em caso de necessidade, é capaz de rebocar quatro pessoas de uma vez, incluindo o nadador-salvador, que assim não vem em esforço.

Petra Sarabi, Golden e Esterella da Casa da Buba.

Dylan da Casa da Buba.

O projeto de cães nadadores-salvadores implica que o nadador-salvador tenha de ter uma formação adicional, para além da formação básica, de modo a poder articular com o cão a operação de salvamento. Espanha e Itália usam o Cão de Água para estas funções. O mesmo ainda não acontece em Portugal, apesar de muitos exemplares da raça receberem este tipo de treino. Para alterar esta situação será necessário o envolvimento de instituições e organismos responsáveis, bem como legislação que possa ser aplicável à realidade do cão na praia e o reconhecimento do Cão de Água enquanto cão de trabalho capaz de atuar em binómio com um humano.

Noitte Di Fiaba da Casa da Buba com os seus filhos.

Gigi da Casa da Buba.

A Casa da Buba faz hoje parte do roteiro cultural Algarvio por mérito próprio. Em paralelo com o projeto Cão Salva-Vidas, recebe excursões de turistas e visitantes que querem conhecer o Cão de Água Português e a sua história, curiosos por conhecer as suas características únicas e observar de perto o seu trabalho em água. Este interesse renascido pelas aptidões naturais destes cães milenares é a melhor garantia para a salvaguarda do seu futuro enquanto raça de trabalho.