MÁRMORE

Chapéu, Palmas Douradas. Vestido Staud e sandálias Celine, na Loja das Meias

Realização SUSANA JACOBETTY

Fotografia JOÃO BETTENCOURT BACELAR

Com JOANA HAMROL

Texto ARMANDO QUINTAS

Criado a partir de uma jornada fascinante pelas profundezas da terra, através de processos geológicos ocorridos há muitos milhões de anos, o mármore é sem dúvida a rocha mais apreciada pela Humanidade no que respeita à ornamentação de espaços públicos e privados.

Laço e saia, Palmas Douradas.

A sua beleza intrínseca que se deve à possibilidade de polimento, à existência de um sem número de variantes cromáticas e à possibilidade de refletir a luz, fez do mármore, a pedra predileta de várias civilizações. De tal forma foi impactante o seu uso, que Michael Greenhalgh, no seu excelente livro Marble Past, Monumental Present (Leiden,2009) apelida o Mar Mediterrâneo de “lago de mármore”, devido ao facto de que todas culturas que se foram sucedendo, Grega, Romana e até Muçulmana manterem essa tradição de uso desta pedra natural para embelezamento e afirmação social.

Vestido Zimmermann, na Loja das Meias.

Camisa Dolce & Gabbana, na Loja das Meias.

No que respeita ao território que hoje é Portugal, a grande jazida localiza-se no Alentejo, em particular nos concelhos de Estremoz, Borba e Vila Viçosa nos quais a exploração já remonta à época romana. Esta atividade milenar só recebe o seu impulso modernizador após o término da I Guerra Mundial, tendo por base, como já pudemos constatar em Os mármores do Alentejo em perspectiva histórica (Hist. Economia,2019), a chegada de grandes empresas com modernos processos técnicos e novas fontes de energia, tais como o uso do fio helicoidal, do ar comprimido, diesel, camiões, gruas de grande porte e eletricidade.

Vestido Dolce & Gabbana, na Loja das Meias.

Desta forma, os mármores brancos, cremes, rosas e azuis acinzentados, passaram a ser intensamente explorados, tornando-se objeto de um grande e importante comércio internacional, com destino a praticamente todos os países do Mundo, mas cuja predominância nas últimas décadas, assenta nas exportações com destino à China, ao Médio Oriente e à Europa Comunitária.

Chapéu Celine, vestido e cesta Dolce & Gabbana, tudo na Loja das Meias.

Vestido Zimmermann, na Loja das Meias.

Dos três municípios onde hoje se extrai o mármore em Portugal, Vila Viçosa é de longe o mais importante, pelo facto de nele se localizarem as reservas de melhor qualidade e, por isso, possuir o maior número de pedreiras em atividade, bem como as empresas mais importantes do setor.

Lenço Balmain, vestido Zimmermann, na Loja das Meias.

É ainda local ideal para apreciar a dimensão cultural do mármore, que se pode vislumbrar através da fachada do palácio ducal, obra esplendorosa que nos permite perceber o impacto da ornamentação pétrea em ambiente urbano; da museologia com a fantástica coleção de peças, ferramentas e outros testemunhos, existentes no museu dedicado ao mármore, e ainda com o turismo industrial. Este último, através da sua rota que permite observar in situ quer os atuais métodos produtivos quer as enormes alterações do território envolvente, com sua paisagem lunar de grandes crateras que se foram aprofundando à medida do aumento vertiginoso da extração, e que num espaço de um século substituíram as tradicionais vinhas e olivais.

Fotografia Susana Jacobetty.

O vislumbre desta rocha em estado bruto e a “beleza da destruição” nestes espaços produtivos tem feito as delícias de muitos artistas, entre os quais, os fotógrafos Edward Burtynsky com o seu livro Quarries (Steidl, 2009) e Joaquín Bérchez com Pedreiras – Carne de Dioses (Ruzafashow, 2011).

Vestido Givenchy e pulseira Paco Rabanne, na Loja das Meias.

Máscara Pieira de Lobos, coleção Boca da Mata, Milena Kalte. Vestido Loewe na Loja das Meias.

Brinco Paco Rabanne, Blazer Fabiana Filippi, na Loja das Meias. Saia: Obra Skirt n 1. Joana Hamrol. Setacolor, ecoline e acrílico em tecido liso Atoalhado. 280x 130 cm, 2024. Página seguinte: Pormenor da obra Skirt 1 de Joana Hamrol.

Cabe ainda ressaltar o importantíssimo papel mediador do mármore, entre as realidades do passado e as perpetivas de futuro. Enquanto recurso natural, tem-se posicionado como símbolo de tradição e de reconstrução da memória, da identidade de uma comunidade e de um território e, por isso, podendo (e devendo) funcionar como elemento central da candidatura a património mundial da Unesco, por ser, a par da água, transversal a todo o período histórico de Vila Viçosa.

Realização

SUSANA JACOBETTY

Fotografia

JOÃO BETTENCOURT BACELAR

Modelo

JOANA HAMROL

Cabelos

DANIEL PEREIRA

Maquilhagem

JOANA LOPES

Assistente de fotografia

KATE STRATTON- WOODWARD

Agradecimento:

MARMORIS HOTEL

GOLD STONE

JORGE COCHICHO

Contatos:

JOANA HAMROL

LOJA DAS MEIAS

MILENA KALTE

PALMAS DOURADAS

MÁRMORE por

ARMANDO QUINTAS

Doutorado em História e investigador do Cidehus

Universidade de Évora e do Centro de Estudos Cechap, Vila Viçosa.